quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Homenagem - BYRATA


Neste ano de 2014, os quadrinhos de Santa Maria, RS, vivem um momento especial, pois um dos filhos dessa terra acaba de ser premiado.
Ninguém mais ninguém menos que o fundador do Quadrinhos S.A., Jorge Ubiratã da Silva Lopes, o Byrata, acaba de ser eleito Mestre do Quadrinho Nacional na 30ª edição do Prêmio Ângelo Agostini, ao lado de Lourenço Mutarelli e Paulo Paiva Lima.

Além dele, outros gaúchos laureados com o prêmio foram: a revista Plataforma HQ, feita por artistas da cidade de Rio Grande (liderados por Alisson Affonso, Wagner Passos e Volni Ney, da mesma equipe do jornal Peixe Frito e da revista Ideia), na categoria Melhor Lançamento Independente, e o fanzine Quadrinhos Ácidos, de Pedro Leite, na categoria Melhor Fanzine. Esse título coroa uma carreira de muitas décadas em prol do quadrinho brasileiro e gaúcho!



Byrata nasceu em Santa Maria em 1953, mas passou boa parte da infância na fazenda Guabiju-Guajá, interior de Tupanciretã, RS. Foi ali, no ambiente bucólico do interior gaúcho, que Byrata desenvolveu uma atração pelas tradições gauchescas e pela vida rude dos peões campeiros, que serviriam de base para a criação de seu personagem mais célebre, o Xirú Lautério.
Outra influência declarada foi o trabalho do ilustrador argentino Molina Campos (1891 – 1959) e suas ilustrações para calendários que retratavam a tradição campeira argentina. A aproximação de Byrata com o quadrinho latino-americano também se deve ao fato de ele ser neto de uruguaios (por parte de pai) e de integrante da Coluna Prestes (por parte de mãe).



A primeira aparição do Xirú Lautério, esse gauchão à moda antiga – grosso, valente, disposto a uma peleia e criado na lida campeira do “sistema antigo” – foi em 1975, em forma de tiras, nos jornais O Semanário (Tupanciretã) e Diário Serrano (Cruz Alta). Em 1978, o material das tiras foi reunido em um gibi independente publicado pela Gráfica Metrópole de Porto Alegre, com introdução do tradicionalista Antônio Augusto Fagundes.
As aparições do Xirú, desde então, se deram de forma esporádica. Nos anos 80, foi publicado na revista independente Quadrins (onde Byrata aparece como co-autor), e, em 1986, foi publicada uma sequência inédita de tiras no jornal A Razão de Santa Maria, RS, chamada Xirú Lautério Contra a Morte.

Em 1991, Byrata formou o Grupo de Risco, com os colegas: o cartunista Elias Ramires Monteiro, o cartunista e professor Mário Lúcio Bonotto Rodrigues, o Máucio, e o escritor Orlando Fonseca. Em 1992, o Grupo de Risco começa a publicar a revista humorística Garganta do Diabo. Além dos textos humorísticos de Fonseca e dos cartuns, HQs e ilustrações de Elias, Máucio e Byrata, ao longo das 17 edições publicadas até 1997, foram revelados alguns novos talentos do cartunismo gaúcho, como Milton Soares, Frank e outros. Vale lembrar que nem sempre a Garganta seguiu o mesmo formato de publicação: inicialmente em formato revista, com capas em P&B, depois teve três números publicados em formato tabloide, para depois voltar no formato revista, com capas coloridas. Foi por volta de 1996 que o grupo também promoveu o evento Santa Maria Cheia de Graça, um salão de humor que reuniu talentos do Brasil e Exterior, com duas edições realizadas. Em 2004, foi publicada uma edição especial, de número 18, da Garganta do Diabo.



Mesmo com os rumos para o quadrinho brasileiro negros da virada dos anos 90 para 2000, Byrata não parou de produzir. Ele também começou uma sólida carreira como escritor, ilustrador de livros infantis e pesquisador.
Por volta de 2002, ele e Abdon Barretto Filho criam, na Vila Belga de Santa Maria, o Espaço Dinotchê, um museu temático, aproveitando a vocação da cidade como importante ponto paleontológico – foi no centro do Estado do RS que foram encontrados os fósseis do dinossauro mais antigo conhecido, o Staurikossaurus Pricei, ou simplesmente Estauricossauro.
No ensejo, Byrata criou até uma mascote para o espaço temático, chamado também de Dinotchê – um estauricossauro trajado de gaúcho. Dinotchê, além de uma série de produtos, ganhou dois livros próprios – um em forma de poemas, ilustrado pelo próprio Byrata, e um em quadrinhos, contando a origem do personagem.

O Espaço Temático, que contava inclusive com uma escultura do Estauricossauro em tamanho natural, funcionou até por volta de 2006, quando foi fechado por falta de recursos para manutenção do projeto. Em 2013, o Dinotchê seria “ressuscitado” em uma peça teatral apresentada em Santa Maria.



Ainda em 2002, Byrata seria o co-fundador, junto com um grupo de aspirantes a quadrinhistas que se reuniam semanalmente na Casa Treze de Maio, no centro de Santa Maria, do Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A.. A entidade, inicialmente presidida por Byrata, começou a dar força aos novos talentos dos quadrinhos de Santa Maria e Região. Da entidade, fazem parte: Marcel Jacques, Antônio Pereira Mello, Bício (Fabrício Réquia Parzianello), Rafael Grasel, Milton Soares, Marcel Ibaldo, Felipe Novato, Guiga Hollweg, Bira Dantas, Fernan Pires, Alexandre Menezes e alguns outros, integrantes temporários e/ou permanentes. 


O principal veículo de divulgação do grupo é a revista Quadrante X, publicada desde 2003, primeiro em formato trimestral, e, depois de alguns percalços, a publicação passou a ser anual. Foi na Quadrante X que Byrata retomou o Xirú Lautério na série Xirú Lautério e os Dinossauros. A série foi publicada entre os números 1 a 8 da Quadrante X, revista que já tem 14 números lançados.



Ainda em 2003, o Grupo de Risco cria o evento Cartucho – Encontro dos Cartunistas Gaúchos, que criou importância ao reunir nomes consagrados do cartunismo do Rio Grande do Sul em Santa Maria. O evento é realizado até hoje anualmente.
Em 2007, de forma independente, Byrata lança o primeiro volume de Xirú Lautério e os Dinossauros, formato revista, reunindo os oito capítulos iniciais da série publicados na Quadrante X.
Em 2009, Byrata é nomeado patrono da Feira do Livro Infantil de Santa Maria.

Em 2009 ainda, o autor lança uma nova aventura do seu gauchão, Xirú Lautério e os Centauros, uma aventura pela mitologia grega e pela história da aviação, em comemoração aos 80 anos do 3º/10º GAV – Esquadrão Centauro de Santa Maria, RS. O álbum recebe menção honrosa do Prêmio Ângelo Agostini de 2010.



Em 2011, Byrata publica o segundo volume da série Xirú Lautério e os Dinossauros, pela editora Rio das Letras. Com esse trabalho, Byrata passou a ter projeção nacional. Inclusive, o cartunista paulistano Bira Dantas inclui o Xirú Lautério em uma sequência de tiras do seu personagem Tatu Man (Dantas havia sido convidado especial do Cartucho de 2010).
Byrata ganha inclusive uma breve menção na mais recente edição da Enciclopédia dos Quadrinhos, de Goida e André Kleinert (Editora L&PM).


Em 2012, pela Rio das Letras, Byrata lança Xirú Lautério Contra o Morte, compilação revista da sequência de tiras publicada em 1986.



Seu mais recente álbum é Xirú Lautério – Tigre N’Água, Parte 1, lançado em 2013, com uma sequência inédita de tiras do Xirú Lautério produzidas nos anos 80, sequência de Xirú Lautério Contra a Morte – mas nunca publicada até então.


Com tudo isso, podemos ver o quanto Byrata se luta para o pleno reconhecimento do quadrinhista brasileiro. Desse modo, o título de Mestre do Quadrinho Brasileiro já é bem merecido, o ponto alto de uma carreira longa e ainda longe do fim.

Salve,Byrata!




Referências:
BYRATA. Xirú Lautério Contra a Morte. Santa Maria: Rio das Letras, 2012.
ZANATTA, Humberto Gabbi. Byrata (perfil) in: BYRATA. Xiru Lautério e os Centauros. Edição independente. 2009. Bibliografia completa não identificada.
GOIDA (GOIDANICH, Hiron Cardoso); KLEINERT, André. Enciclopédia dos Quadrinhos. Porto Alegre: L&PM, 2011.
Blogs: http://byrata.blogspot.com.br/ e http://estudiorafelipe.blogspot.com.br/

Créditos das imagens: www.clicrbs.com.br (foto do autor), http://cruzaltino.blogspot.com.br/ (Blog do Cruzaltino), http://byrata.blogspot.com.br/ e http://estudiorafelipe.blogspot.com.br/.

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