Por Rafael Grasel (http://estudiorafelipe.blogspot.com.br/)
Neste
ano de 2014, os quadrinhos de Santa Maria, RS, vivem um momento
especial, pois um dos filhos dessa terra acaba de ser premiado.
Ninguém mais ninguém menos que o fundador do Quadrinhos S.A., Jorge
Ubiratã da Silva Lopes,
o Byrata,
acaba de ser eleito Mestre
do Quadrinho Nacional na
30ª edição
do Prêmio Ângelo Agostini,
ao lado de Lourenço
Mutarelli e
Paulo Paiva
Lima.
Além
dele, outros gaúchos laureados com o prêmio foram: a revista
Plataforma
HQ,
feita por
artistas da cidade de Rio Grande (liderados por Alisson
Affonso, Wagner Passos e
Volni Ney,
da mesma equipe do jornal
Peixe
Frito
e da revista
Ideia),
na categoria
Melhor Lançamento Independente,
e o fanzine Quadrinhos
Ácidos,
de Pedro
Leite, na
categoria
Melhor Fanzine.
Esse título coroa uma carreira de muitas décadas em prol do
quadrinho brasileiro e gaúcho!
Byrata
nasceu em
Santa Maria em 1953, mas passou boa parte da infância na fazenda
Guabiju-Guajá, interior de Tupanciretã, RS. Foi ali, no ambiente
bucólico do interior gaúcho, que Byrata
desenvolveu uma atração pelas tradições gauchescas e pela vida
rude dos peões campeiros, que serviriam de base para a criação de
seu personagem mais célebre, o Xirú
Lautério.
Outra
influência declarada foi o trabalho do ilustrador argentino Molina
Campos (1891 – 1959) e suas ilustrações para calendários que
retratavam a tradição campeira argentina. A aproximação de Byrata
com o quadrinho latino-americano também se deve ao fato de ele ser
neto de uruguaios (por parte de pai) e de integrante da Coluna
Prestes (por parte de mãe).
A
primeira aparição do Xirú
Lautério,
esse gauchão à moda antiga – grosso, valente, disposto a uma
peleia e criado na lida campeira do “sistema antigo” – foi em
1975, em forma de tiras, nos jornais O
Semanário
(Tupanciretã)
e Diário
Serrano
(Cruz Alta).
Em 1978, o material das tiras foi reunido em um gibi independente
publicado pela
Gráfica Metrópole de Porto Alegre,
com introdução do tradicionalista
Antônio Augusto Fagundes.
As
aparições do Xirú,
desde então, se deram de forma esporádica. Nos anos 80, foi
publicado na revista independente Quadrins
(onde Byrata
aparece como co-autor), e, em 1986, foi publicada uma sequência
inédita de tiras no jornal
A
Razão
de Santa Maria, RS,
chamada Xirú
Lautério Contra a Morte.
Em
1991, Byrata
formou o
Grupo de Risco,
com os colegas: o cartunista Elias
Ramires Monteiro,
o cartunista e professor Mário
Lúcio Bonotto Rodrigues,
o Máucio,
e o escritor
Orlando Fonseca.
Em 1992, o
Grupo de Risco começa
a publicar a revista humorística Garganta
do Diabo.
Além dos textos humorísticos de Fonseca
e dos
cartuns, HQs e ilustrações de Elias,
Máucio e
Byrata,
ao longo das 17 edições publicadas até 1997, foram revelados
alguns novos talentos do cartunismo gaúcho, como Milton
Soares, Frank
e outros. Vale lembrar que nem sempre a
Garganta
seguiu o mesmo formato de publicação: inicialmente em formato
revista, com capas em P&B, depois teve três números publicados
em formato tabloide, para depois voltar no formato revista, com capas
coloridas. Foi por volta de 1996 que o grupo também promoveu o
evento Santa
Maria Cheia de Graça,
um salão de humor que reuniu talentos do Brasil e Exterior, com duas
edições realizadas. Em 2004, foi publicada uma edição especial,
de número 18, da
Garganta
do Diabo.
Mesmo
com os rumos para o quadrinho brasileiro negros da virada dos anos 90
para 2000, Byrata
não parou de produzir. Ele também começou uma sólida carreira
como escritor, ilustrador de livros infantis e pesquisador.
Por
volta de 2002, ele e Abdon
Barretto Filho
criam, na Vila Belga de Santa Maria, o
Espaço Dinotchê,
um museu temático, aproveitando a vocação da cidade como
importante ponto paleontológico – foi no centro do Estado do RS
que foram encontrados os fósseis do dinossauro mais antigo
conhecido, o Staurikossaurus
Pricei,
ou simplesmente Estauricossauro.
No
ensejo, Byrata
criou até uma mascote para o espaço temático, chamado também de
Dinotchê –
um estauricossauro trajado de gaúcho.
Dinotchê,
além de uma
série de produtos, ganhou dois livros próprios – um em forma de
poemas, ilustrado pelo próprio
Byrata, e um
em quadrinhos, contando a origem do personagem.
O
Espaço Temático, que contava inclusive com uma escultura do
Estauricossauro em tamanho natural, funcionou até por volta de 2006,
quando foi fechado por falta de recursos para manutenção do
projeto. Em 2013, o Dinotchê
seria
“ressuscitado” em uma peça teatral apresentada em Santa Maria.
Ainda
em 2002, Byrata
seria o co-fundador, junto com um grupo de aspirantes a quadrinhistas
que se reuniam semanalmente na Casa Treze de Maio, no centro de Santa
Maria, do Núcleo
de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A..
A entidade, inicialmente presidida por Byrata,
começou a dar força aos novos talentos dos quadrinhos de Santa
Maria e Região. Da entidade, fazem parte: Marcel
Jacques, Antônio Pereira Mello, Bício (Fabrício Réquia
Parzianello), Rafael Grasel, Milton Soares, Marcel Ibaldo, Felipe
Novato, Guiga Hollweg, Bira Dantas, Fernan Pires, Alexandre Menezes e
alguns outros, integrantes temporários e/ou permanentes.
O
principal veículo de divulgação do grupo é a revista Quadrante
X,
publicada desde 2003, primeiro em formato trimestral, e, depois de
alguns percalços, a publicação passou a ser anual. Foi na
Quadrante
X que
Byrata
retomou o Xirú
Lautério na
série Xirú
Lautério e os Dinossauros.
A série foi publicada entre os números 1 a 8 da Quadrante
X,
revista que já tem 14 números lançados.
Ainda
em 2003, o Grupo
de Risco cria
o evento
Cartucho – Encontro dos Cartunistas Gaúchos,
que criou importância ao reunir nomes consagrados do cartunismo do
Rio Grande do Sul em Santa Maria. O evento é realizado até hoje
anualmente.
Em
2007, de forma independente, Byrata
lança o primeiro volume de Xirú
Lautério e os Dinossauros,
formato revista, reunindo os oito capítulos iniciais da série
publicados na Quadrante
X.
Em
2009, Byrata
é nomeado patrono da Feira
do Livro Infantil de Santa Maria.
Em
2009 ainda, o autor lança uma nova aventura do seu gauchão, Xirú
Lautério e os Centauros,
uma aventura pela mitologia grega e pela história da aviação, em
comemoração aos 80 anos do 3º/10º GAV – Esquadrão Centauro de
Santa Maria, RS. O álbum recebe menção honrosa do Prêmio
Ângelo Agostini de
2010.
Em
2011, Byrata
publica o
segundo volume da série
Xirú
Lautério e os Dinossauros,
pela editora Rio
das Letras.
Com esse trabalho,
Byrata passou
a ter projeção nacional. Inclusive, o cartunista paulistano
Bira Dantas
inclui o Xirú
Lautério em
uma sequência de tiras do seu personagem Tatu
Man
(Dantas
havia sido
convidado especial do
Cartucho de
2010).
Byrata
ganha
inclusive uma breve menção na mais recente edição da
Enciclopédia
dos Quadrinhos,
de
Goida e André Kleinert
(Editora
L&PM).
Em
2012, pela
Rio das Letras, Byrata lança
Xirú
Lautério Contra o Morte,
compilação revista da sequência de tiras publicada em 1986.
Seu
mais recente álbum é
Xirú
Lautério – Tigre N’Água, Parte 1,
lançado em 2013, com uma sequência inédita de tiras do
Xirú Lautério produzidas
nos anos 80, sequência de Xirú
Lautério Contra a Morte
– mas
nunca publicada até então.
Com
tudo isso, podemos ver o quanto
Byrata se
luta para o pleno reconhecimento do quadrinhista brasileiro. Desse
modo, o título de Mestre
do Quadrinho Brasileiro
já é bem merecido, o ponto alto de uma carreira longa e ainda longe
do fim.
Salve,Byrata!
Referências:
BYRATA.
Xirú Lautério Contra a Morte. Santa
Maria: Rio das Letras, 2012.
ZANATTA,
Humberto Gabbi. Byrata (perfil) in: BYRATA. Xiru Lautério e os Centauros. Edição independente. 2009.
Bibliografia completa não identificada.
GOIDA (GOIDANICH, Hiron Cardoso); KLEINERT, André. Enciclopédia dos Quadrinhos. Porto
Alegre: L&PM, 2011.
Blogs: http://byrata.blogspot.com.br/ e http://estudiorafelipe.blogspot.com.br/Créditos das imagens: www.clicrbs.com.br (foto do autor), http://cruzaltino.blogspot.com.br/ (Blog do Cruzaltino), http://byrata.blogspot.com.br/ e http://estudiorafelipe.blogspot.com.br/.
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